Editorial

Demorou, mas a decisão foi tomada

Após um 2022 inteiro de cobranças pela instalação de uma delegacia de polícia especializada na investigação de homicídios em Rio Grande, foi somente agora, faltando uma semana para o encerramento do ano mais violento da história do Município, que o governo do Estado decidiu emitir decreto implantando essa estrutura. Algo que, embora tenha sido mais fortemente solicitado nos últimos meses, é demanda antiga. Antes mesmo da onda de violência inédita que varre a cidade, a comunidade riograndina já se manifestava questionando o motivo pelo qual uma localidade com mais ocorrências de assassinatos que Pelotas, por exemplo, não tinha sua delegacia especializada, enquanto a vizinha possui o serviço.

Para fins de comparação: com cerca de 340 mil habitantes, Pelotas contabiliza 22 pessoas vítimas de mortes violentas conforme o dado mais recente da Secretaria Estadual de Segurança Pública. Neste cálculo estão incluídos homicídios, feminicídios, latrocínios e lesões seguidas de morte. Enquanto isso, Rio Grande, com 212 mil moradores, soma 98. Quase 4,5 vezes o número de registros pelotenses.

Conforme o diagnóstico apontado por autoridades da área de segurança pública ao comentar a situação de Rio Grande, a cidade atualmente é cenário de sangrenta disputa de facções criminosas por espaços e poder. Grupos que teriam, inclusive, conexões e suporte bem além dos limites da cidade. A ponto de criminosos de fora manterem contato com líderes em cumprimento de pena no sul do Estado - e que deveriam estar incomunicáveis - e para cá virem cometer execuções.

Ponto extremo da barbárie em Rio Grande, a tortura e assassinato de um adolescente na beira da praia do Cassino, com imagens gravadas e disseminadas, assombrou ainda mais a região e deu novo fôlego ao pedido por ação mais incisiva no combate ao crime. Antes disso, a indignação já era presente porque cidadãos alheios à disputa entre quadrilhas haviam tombado e até uma policial foi atingida por disparo na cabeça durante operação, sobrevivendo graças a um milagre impulsionado pelo rápido socorro dos colegas e competência da equipe médica.

Diante de tudo isso, parece óbvio que houve demora do governo gaúcho em se convencer da necessidade de uma Delegacia de Homicídios. Ainda que um importante trabalho tenha ocorrido com a força-tarefa dedicada a enfrentamento deste crime e que operações de fiscalização dentro do presídio resultassem em apreensões, principalmente de celulares e armas, o reforço com foco investigativo era muito aguardado. Chegou mais tarde do que deveria, mas tomara que contribua decisivamente para garantir a Rio Grande e toda a Zona Sul um pouco mais de paz.​

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